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quinta-feira, 4 de março de 2010


PESCADORES DE SONHOS
Guida Linhares

Pescadores de sonhos em busca do amor,
navegam em águas às vezes serenas,
outras tantas vezes, descem do barco
enfiando os pés no fundo mar das penas.

No equilíbrio dos sentimentos, a eterna busca
de amarem e serem amados, dourada felicidade,
que dizem os poetas nunca está onde se procura,
mas se persegue ávidamente o amor de verdade.

A natureza em sua exuberância, forma o cenário
onde cada criatura almeja pescar um amoroso sonho.
Contudo o balanço do barco pode por tudo a perder,
se não houver sinceridade e bons propósitos, suponho.

Mas todo bom pescador sente o prazer da espera
entregando-se ao deslizar num desconhecido rio,
refletida a miragem dos sonhos em seu espelho,
contemplando a natureza, em seu constante cio.


quarta-feira, 3 de março de 2010


CANÇÃO PRAIANA
Nilo Ferreira Soares

Vento suleste, praiano, faceiro,
trazendo arrepios, à tarde, do mar,
fazendo da praia batido terreiro
para a ciranda brincar e dançar

Por cima das moitas, também fandangueia
Em pinchos se joga por sôbre o jundú
e atira e retira punhados de areia
até ter balanços o mandacarú

E pelos barrancos, gramíneas amassa;
comprime e suspende os cambucaeiros;
E rodomoinha. E pula, faz graça
jogando gravetos nos peguassueiros!...

É Pan, com sua flauta, tocando a surdina
que os galhos, cipós e caragoatas,
compreendem e seguem - toada ladina -
e dançam, atôa, que nem boitatás!

E segue o caminho, da praia distante,
com flôres silvestres se torna aromal.
E só de passagem, feceiro, excitante,
põe mil tremeduras no mandiocal!...

Mas quando na casa do humilde caiçara
fechada com trancas, não pode ele entrar!
Só de pirraça: Derruba a jissará
onde a libita dançava a secar!...

E volta à palhoça, subindo nas palhas
que servem de toto, de céu ao praiano,
berrando nas frinchas, nas mínimas falhas,
acintes tirados na voz do oceano!...

Vento suleste que canta e troteia,
que ralha, que brinca, faceiro, insolente!...
Em pinchos, jogando punhados de areia
atira saudades na alma da gente!

http://www.zwarg.com.br/nilo3.html

terça-feira, 2 de março de 2010


EM MIM TAMBÉM...
Olavo Bilac

Em mim também, que descuidado vistes,
Encantado e aumentando o próprio encanto,
Tereis notado que outras cousas canto
Muito diversas das que outrora ouvistes.

Mas amastes, sem dúvida ... Portanto,
Meditai nas tristezas que sentistes:
Que eu, por mim, não conheço cousas tristes,
Que mais aflijam, que torturem tanto.

Quem ama inventa as penas em que vive;
E, em lugar de acalmar as penas, antes
Busca novo pesar com que as avive.

Pois sabei que é por isso que assim ando:
que é dos loucos somente e dos amantes
na maior alegria andar chorando.